terça-feira

Convite: Fátima Marinho apresenta "Ama-me sem me suportares" na Fnac Almada Forum no próximo dia 23 de Fevereiro

Publicada por Ana Isabel Pedroso


Venho convidar-vos a estar presente na apresentação do mais recente livro da autora Fátima Marinho, "Ama-me sem me suportares ", no próximo dia 23 de Fevereiro pelas 21h00 horas na Fnac Almada Forum.


Sinopse:
Ama-me sem me suportares é um livro de 100 poesias e 1 conto. Sobre o livro, Fátima Marinho escreve: “Este livro é um ensaio imperfeito sobre a métrica dos sentimentos - mas a prova adequada das suas aderências. Quis escrever poemas de amor, de saudade, de morte, de esperança e, durante sete capítulos, mantive o esforço, até desaguar nos fragmentos, para deixar que os poemas fossem exactamente isso: pequenos pedaços de tudo.”

Um livro de poesia é sempre uma ribeira brava, que a todo o momento pode galgar as margens e afogar o que nos sufoca. Nesse sentido, é também uma libertação inconsciente de arquétipos imemoriais. As palavras quando se juntam à roda de uma ideia deixam as ideias à roda até que todas caiam reconciliadas no chão. É assim que a poesia se intromete nos gestos do quotidiano e, transcendendo-os, os transfigura. Este é um livro onde os afectos servem a poesia que deles se serve para ser o que é.

O livro tem ainda um conto: "Anjo de Jade".

Excerto

"Vozes

No fio, de luz, da vela, voltejam,
As vozes que o tempo calou.
Percorrem-me e colam-se nas paredes,
Franqueiam os móveis,
E sentam-se na cadeira de talha...
Não há silêncio que valha,
Ao silêncio das vozes que perdi."



Sobre a autora:
Fátima Marinho
21 de Novembro de 1966
Cuba (atualmente a residir em Lisboa)

Nascida a Sul, sob o vago encantamento da passagem.
Anos 70
"O que sei de mim começou a acontecer por volta dos quatro anos, quando me tornei, de uma só vez, proprietária e agricultora. Cerquei com pedras um pedaço de solo para nele experimentar o direito à propriedade privada e aos afectos dos gestos repetidos. Adoptei-o sem autorização, tal como os homens fundadores da sociedade civil que se apossaram das terras e ousaram chamá-las suas. Também assim fiz. Medi o local frontispício ao pequeno café da minha mãe e passei a cultivá-lo. Não me lembro de alguém ter reparado nesse meu acto insubordinado de emancipação latifundiária.


Todos os dias esquadrinhava os movimentos do canteiro, para aprender a força telúrica da terra. Um feijão destacou-se em altura e beleza de todas as outras sementeiras. Orientei o seu crescimento com uma estaca e ele desabrochou em flores.
Nessa altura, iniciei também estudos de biologia aplicada. Seguia o coaxar das rãs, nos regatos, para descrever a geografia dos percursos dos batráquios e recolhia cascas de árvores que dispunha por grupos de análise morfológica.


Nunca ninguém soube das minhas investigações silenciosas e do destino traçado de cientista/agricultora.
O feijão gigante e florido do meu canteiro permanecerá, de entre todas, como a mais estonteante e douta experiência. Por imperativos laborais de meu pai, dele me apartei quando ainda não sabia dividir o tempo em passado e futuro. Soube, todavia, sonhar durante longos dias com o meu feijoeiro todo florido e descobri que, por mais decisivas que sejam as razões da vida, nada manda no que, dentro de nós, continuamos a alimentar e a deixar crescer.


Abandonei o ofício de cientista quando comecei a frequentar a escola que sempre temi e desejei em partes iguais. Tive muitas professoras, muitos colegas e inúmeros lugares de carteira, mas o primeiro dia de aulas permanece distinto. As escadas íngremes a terminarem no portão estreito de ferro. A minha mãe a deixar-me naquele lugar vazio de rãs em regatos de água. Os meus olhos aflitos no meio do clarão da manhã de Outono. As carteiras de madeira com tampo inclinado e tinteiro para encher a caneta de aparo. O terror de me imaginar a escrever com caneta de tinta permanente e sujar o papel com respingos. A minha memória episódica, descarnada de factores circunstanciais, deve ter tido o seu berço no meu primeiro dia de aulas. Não tenho a mais pequena ideia da sala, da cara da professora, do número de colegas ou do intervalo. Mas lembro-me claramente das patas de cavalo gigantes entre as trepadeiras, do alecrim e do portão alto e estreito de ferro fundido que me impedia de fugir.


Até aos dez anos, aprendi que a mudança é o meu lugar de permanência, pelo que o tempo sagrado e consagrado tomou o leme do barco de noz em que navego. Os minutos são importantes, tant

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